Uma melodia se eleva, Uma nota deixada pelo vento, Subtrai o silêncio da treva, Que arrastou o peso do tempo. Folhas vermelhas cobrem o chão, Os pássaros migram da temporada, Os montes cercam solidão, Que se instalou delicada. Nuvens brancas ao entardecer, O sol brilha, alheio ao temporal, Um dia lindo para reviver, Cantou o pássaro no beiral. Viajando ao anoitecer, Tantos quilómetros de estrada, Tanto ainda, para viver, É tão amável a madrugada. Maria Neves
Caminhei pela noite fria, Por entre os sons do arvoredo, Tive as estrelas como guia, Nunca deixei de seguir o segredo. Nuvens dispersas, o luar, Pelo cantar da coruja me enfeiticei, Travei lutas com as trevas, eu sei, Mas depressa a Luz encontrei. A madrugada vermelha se anunciou, Cansada, no chão me deitei, O Sol de Outono voltou, No perfume da madrugada acordei. Folhas vermelhas dançavam ao vento, Um momento crente e acolhedor, Do orvalho bebi o alento, Que o Universo advertiu (...)
Procurei no campo, junto ao rio, Procurei nas dunas, perto do mar, Suportei o calor, também o frio, Algo tão bom, mas difícil encontrar. Numa rajada de vento, Numa música, vinda do Norte, Numa surpresa, vinda do tempo, Numa imagem, ou recorte. Talvez na guitarra, voltada na minha direção, Talvez nas palavras que faz acompanhar, Talvez uma obra, do mestre artesão, Talvez o tesouro, perdido no mar. Possível Luz do amanhecer, Trazida pelo Sol do Nascente, Numa asa invisível, (...)
A luz da manhã entrou, Pássaros cantavam em sinfonia, O tempo por um momento parou, Preparava-se apenas um novo dia. De frente contemplei o mar, Tranquilo na sua imensidão, Parecia ter algo para contar, Mas não era ocasião . Lembro quando caminhava em direção ao cais, Sentindo o perfume da maré, Alegria e paz seriam demais, Hoje, vejo um mundo sem fé. Círculos de nuvens brilham no entardecer, Ao longe, ilhas bordam o oceano, A beleza que os olhos conseguem ver, Aqui não (...)
Um Sonho Dançam anjos na estrada, Ao som das ondas do mar, Não há Lua na noite encantada, Não há Luz neste lugar. Pássaros brancos no rochedo, O vento canta ao passar, Traz um recado, um segredo, Enviado pelo nosso Mar. La longe, corre um rio, Nas margens crescem flores, Mata sede ao regadio, Testemunhou grandes amores. A manhã parecia distante, Quando uma luz se anunciou, Com um ruído precipitante, E dança dos anjos findou. Maria Neves
O dia começou bem cedo, Uma brisa fresca passou, Lembrou o rio, e o arvoredo, Uma récita, que alguém declamou. Uma nuvem alta corria, O Sol de Março estava quente, Perto dos pássaros sorria, Na sua presença eloquente. Um raio de prata junto da serra, Estremece o chão ao anoitecer, Emana o perfume da terra, Canção da chuva, para enaltecer. O tempo, aliado que fortalece, A raiz, que não deixa o sonho fugir, A seiva da vida prevalece, E não permite a memória ruir. Maria Neves (...)
Avisto o rochedo, no mar inquieto, Repouso o olhar, ao longo da ponte, Esperança cativa, neste mundo manieto, Talvez as respostas no horizonte. Sente-se o cheiro da primavera no ar, Voltam os pássaros que seguem a rota, Olhando para cima, não vejo um altar, No oceano, nem barco nem frota. Olhando em frente do nada, Ouve-se uma voz que não fala, proclama, A sua mentira sublimemente ensaiada, Num tom moribundo que já não inflama. Olhando de cima, piso este chão, A pedra branca, (...)
Ao longe o mar azul desafia, Conta histórias aos rochedos, Só eles sabem, eu nada sabia, Que o mar também, esconde segredos. Sopra o vento frio do Norte, Da onda, voa a espuma gelada, Toca no sopro, no desnorte, Onde a humanidade se vê trancada. Viajando pelo horizonte, Onde o desejo confunde, Onde o forte se esconde, Onde o profundo do Ser, Sucumbe. Ao crepúsculo, lentes de bruma, O manto voraz da mentira, Em que a verdade não se acostuma, No rumo que nunca assentira. Maria Neves (...)
Estou tão triste neste canteiro, Outros, floridos e encantados, É só chuva, e nevoeiro, E os meus botões abotoados. Quero o frio de Dezembro, Quero o corrupio do vento norte, Sou pequenina, mas não lembro, Um Tempo com tanto desnorte. As roseiras estão floridas, As canas crescem no desfiladeiro, As palmeiras tem folhas compridas, Eu, de botões cheia no canteiro. Sou só uma pequena cameleira, Que oferecia flores pelo Natal, Mas o tempo trocou-me as voltas, E não, não haverá (...)