Conto de Natal #O papel de lustro, sem Pinheiro
Como estava branca aquela manhã de 24 de Dezembro de 1976
O Pinheiro ainda estava no pinhal.
O papel de lustro vermelho, verde e amarelo já estava cortado, em bolas, em estrelas, e em fitas de harmónio, à espera de fazer a diferença, para o ano anterior.
Mas faltava o Pinheiro!...
Estava tão perto e tão longe.
Olhando à minha volta, parecia que a terra e o pinhal estavam embrulhados num lençol branco, que não voava com o vento gélido.
Atrás da porta, frente para o pinhal, eu chorava baixinho. Amanhã já é o dia de Natal. Onde deixar os chocolates, e as prendas da Tia Maria. Sem Pinheiro não há Magia, só Coisas.
Então e o presépio? Perguntava a minha Mãe, cheia de curiosidade.
As peças foram feitas e estão no saco de pano vermelho, mas não há Musgo e também não há Pinheiro, Mãe.
Tiveram muito tempo para fazer tudo bem feito, mas, passas o tempo metida nos livros!
Eu fiquei petrificada. Era verdade.
Era meio dia, juntou-se à geada branca uma chuva gelada. E de repente, não havia mais gelo, apenas muito frio.
Nós estávamos proibidos de pegar em objectos cortantes.
O dia corria em ritmo rápido. Quase noite, a Noite de Natal, sem árvore e sem presépio, não ... não, é mau de demais, pensava eu.
A minha mãe pediu-me que fosse ao piso de baixo, buscar um saco que estava no fundo das escadas, de ofertas dos primos de Coimbra, para mim e para os manos.
Lá fui eu tesa e forte, a chorar por dentro; "deve ser para colocar junto ao papel de lustro ..."murmurava eu.
Quando cheguei às escadas, olho para o fundo e vejo um lindo Pinheiro, que ainda pingava, e um saquinho de Musgo verde e fresco, e ainda molhado. Ao lado um saco amarelo brilhante.
Aos gritos salto pela casa, e vem a minha Mãe, ter comigo, então?
Oh Mãe, já tenho o Pinheiro e o Musgo. Olha, não abri o saco dourado... Desculpe.
Quem trouxe as coisas?
Fui eu filha, e o pai, não aguentávamos ver os nossos meninos tristes na Noite de Natal, a adorar o papel de lustro.
Obrigada! Salvaste-me.
Nunca mais na vida faremos o Natal na véspera, isso é mesmo só nos livros.
Vai, vai com os manos para a sala fazer a árvore de natal e o pequeno presépio, tem todo o valor, porque foi tudo feito pelas vossas mãozinhas, meus filhinhos.
Não esqueças a meia, uma por cada um na chaminé.
Não, não esquecerei.
Apressei-me a dar a notícia aos manos e a secar a árvore na entrada de baixo.
De seguida a minha Mãe e a minha Tia Maria, já tinham colocado a proteção para assentar a árvore e o pequeno presépio.
Ao jantar estava tudo pronto. E estávamos todos de banho tomado, e bem vestidos à mesa para celebrar o nascimento do Menino Jesus.
No fim do jantar, eu proferi:
" Sabem o que peço ao menino Jesus?"
Em coro, responderam todos:
Não!!!
Quando for grande quero ir à Lapónia, ver as renas e o pai Natal.
O meu pai retorquiu, se queres, irás! Tens que ter fé e estudar. Deitei-me com aquele pensamento, aquele Sonho!
Ficou lindo, a decoração com pratas de chocolate e Papel de Lustro. O presépio parecia tirado de um livro, tinha apenas o essencial, mas apesar do musgo molhado, as figuras em papel foram desenhadas e pintadas por nós, não derreteram, e o Sol no dia de Natal veio agradecer o nosso esforço.
Também o meu desejo já foi concretizado, já fui a Lapónia Sueca.
Fim
Maria Neves
Imagens: https://ambar.pt/products/papel-lustro-320x240-10-cores-ambar-school
https://www.olharvianadocastelo.pt/2012/11/municipio-de-viana-distribui.html?m=1