O sol brilhou naquela manhã, A última gota de orvalho secou, Para trás a terra guardiã, Que o crepitar do fogo calou. Viajar para outro lugar, Vencer pela razão, Recusar apenas lutar, Por algo que não é seu chão. Encontrar um bem supremo, Algo difícil de descrever, Viajar em barco sem remo, Onde a vida se faz viver. Caminhar à luz do luar, Ouvir o mar que fica tão perto, Sem motivos para alcançar, Prados verdes no deserto. Maria Neves
A noite de luar acabou, O horizonte vermelho de frente, O tempo, esse mudou, Não posso ficar indiferente. Assemelha -se a um manto, Que desliza para um lado, Não, não há pranto, Apenas alguém abalado. Todos olham a nuvem que passa, Há tempestade no Ser, Nem terra, nem monte afasta, Porque há nuvem, mas não vai chover! Acontece, é um fardo pesado, Não, Ninguém quer ver, Mais fácil viver no passado, Ser obediente, e nada resolver. Vejo o mar que viaja em vai-e-vem, Viajo no (...)
O ruído do vento que sopra da serra, O ranger da porta que se fechou, O grito da esperança que sai da terra, O que o tempo não levou. Sigo na direção dos meus sentidos, Que há muito tempo deixei, Onde sonhos foram vividos, Onde com a coruja, à noite cantei. Sigo por pontes de pau, Debaixo, uma torrente de lama, Mas o caminho não será tão mau, Quando algo muito bom me chama. Não esqueço o Dezembro frio, O calor da lareira, a oração, O autor do livro, o trovão, e o rio, (...)
Pela estrada da noite viajei, Toquei na névoa do amanhecer, No cume da serra pernoitei, Percorri léguas a descer. Procurei na berma da estrada, Uma fonte com água fresca, Só encontrei erva castrada, Em solo árido, nada refresca. Rios e mares do Sul guardais, As mais frescas águas do desejo, Sussurrem vossos caudais, Que sobre este calor tórrido, almejo. De repente, avisto da ponte, A pêga branca que voa serena, Verdes jardins na base do monte, Encontro, a Fonte da Pena. (...)
O céu é cor de fogo, Ao crepúsculo, sobre a serra, Vivências, com algo de novo, Cheiros de mar e de terra. A noite cai poderosa, O luar desfaz a escuridão, A coruja, exibe sua voz charmosa, Este lugar não tem multidão. Madressilva, bétula, bergamota, Juntam essências na maresia, Do céu da noite, não cai uma gota, Mas a brisa do mar, faz a cortesia. Algarve em Agosto... Maria Neves
O azul das águas relembra, Com a clareza dos tempos, Tudo o que não temos certeza, Volta na mudança dos ventos. Nos rochedos da ilha me sentei, Troquei sonhos por palavras soltas, O horizonte longínquo avistei, Acariciando ondas revoltas. As gaivotas planavam na noite escura, Deixavam no espaço seus ais, Ali a natureza, nada descura, O mundo mora no cais. Na ilha ... Maria Neves Fotografias: Susana Neves e Joana Lourenço
Oceano Azul Algures eu procurei, Quando tudo era incerto, Quando longe encontrei, O que sonhara por perto. Lembro os ventos da serra, Lembro noites junto ao mar, Lembro um cheiro de terra, Sentido num simples olhar. Uma vida cheia de vida, Uma música vinda do Norte, Numa praia esquecida, Onde a onda mostra o seu porte. Lembranças de um lugar, De uma brisa vinda do sul, No fundo do teu olhar, Existe um Oceano Azul. Maria Neves
Em Abril procurei o sol, Por entre as nuvens encontrei, Entre vales estendi o lençol, No cume da serra descansei. Percorri caminhos, andei devagar, Procurei um lugar por descobrir, Onde a coruja voasse a cantar, Onde visse estrelas cair. Lá do alto da serra viajei, Com as asas da harmonia, Tantos sonhos encontrei, Quanta paz em sincronia. O Sol voltou ao amanhecer, Já sem nuvens para afastar, O dia passa a correr, Em Abril soltei o olhar. Maria Neves
Uma essência perdida, No momento apagou, Uma esperança antiga, E o mundo mudou. Uma razão imatura, Um desejo premente, Numa ilusão que perdura, Numa verdade cadente. Através de um olhar, Sem se ouvir uma voz, Alguém deixou o seu lugar, Numa corrida veloz. Através de palavras soltas, Se perdeu o sentido, De promessas envoltas, De um manto despido. Maria Neves