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19.12.21

Conto de Natal #O dia começou branco


Maria Neves

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Conto  de Natal
#O dia começou branco

Foi numa manhã de Dezembro,  o dia acordou branco. Eu apressei- me a ir à janela do salão, para programar a nossa Tarde Inesquecível,  quando o sol derretesse o gelo.
A azáfama era grande, os homens conversavam sobre a qualidade do azeite do ano corrente, por entre uns copos de aguardente para aquecer a alma, na pausa do trabalho, enquanto eu ouvia com muita atenção as fases da preparação da azeitona, antes de ir para o Lagar de azeite.
Após o almoço, eu saí de casa bem sorrateiramente e fui "montar a tenda."
Eram umas duas horas da tarde, o sol não aquecia, parecia que as estrelas estavam contra.
O celeiro da quinta tinha uma eira, onde eram preparados no Verão  os cereais,  e no Inverno a azeitona era limpa de folhas e resíduos.
Atrás do celeiro batia o sol, estava muito agradável.
Tinha chegado a hora. A Tia Maria, a irmã mais velha do meu pai,  solteira, era a nossa Preceptora. Ela ajudava em tudo, mas não queria ser mencionada. Pendurámos atrás da parede nas argolas onde se prendiam  os cavalos, uma manta de linho antigo. Seguem-se dois paus espetados no fundo de um posseiro de verga, virado ao contrário,  um de cada lado. Tudo bem amarrado com cordas . Fomos buscar dois cobertores para os laterais. À frente uma tábua do celeiro fez o balcão. E pronto, estava pronta a tenda da Feira de S. Miguel.
( Feira anual da vila, do qual é padroeiro).

Então fui buscar os meus quatro manos para a tenda. Eles respectivamente tinham, nove, oito, seis e quatro  anos. Talvez  a melhor tarde, todos,  e sem os olhos da minha mãe,  e o Natal tão perto.

Previamente tinha sido colocado lá, pela Tia Maria, um cesto com pão fresco do forno da quinta, o queijo que a Tia Augusta, a irmã do meio do meu pai tinha oferecido, doces, leite quentinho no termo, frutos secos, a chupeta suplente da Mana mais nova,   que se a  Bendita faltasse,   não se calaria um segundo,  muito riso e música com cassetes.
A Tia Maria colaborava, mas dizia baixinho " Ainda vou pagar por isto, mas vale a pena".
O meu pai, com um olhar sorumbático, dizia:

Prefiro não comentar,  mas até é uma vergonha, com "pessoas de fora" aqui a trabalhar,  mas eles estão a divertir-se com a Tia, que é igual a eles,   para o que lhe havia de dar!

A prova do azeite novo, seria na noite de Natal. Como eu sinto alguma nostalgia, quando lembro  a minha infância e adolescência.

A hierarquia da Prova. Primeiro sempre os mais velhos, que emitiam um parecer. Quando chegava a vez da menina mais velha, Eu, dizia : Tão bom pai! Melhor que no ano passado! Saudades. Dizia sempre igual.

Hoje eu lembro com tanto carinho, o quanto fomos felizes e não sabíamos.


Maria Neves

Imgens: https://pt.depositphotos.com/36526885/stock-photo-closeup-of-olives-in-a.html

https://www.google.pt/search?q=lagar+de+azeite+antigo&client=safari&hl=pt-

https://agriculturaemar.com/pequenos-agricultores-nao-sabem-o-que-fazer-a-azeitona-lagares-da-carmim-e-de-portel-estao-parados/

 

 

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