O alecrim Tolentino e o cacto Zabreu
Maria Neves
Zabreu:
Querias vento Tolentino?
Para te limpar as poeiras do Norte de África,
As teias de aranha,
As flores secas,
As folhas velhas,
Ai o tens, alecrim.
Não sei como consegues, manter essa verdura toda!...
Sou um cacto infeliz, vermelho, que foi tão bonito.
Estou feio e velho.
Nem no Deserto suportei ventania assim.
Gelado.
Seco.
Estou quase pelado.
Estou a ficar roxo de frio.
Tolentino:
Farto de tanta amargura forjada, o Tolentino ramalhudo respondeu:
Ingrato, és pior que os humanos. Queres Guerra ?
Vai para o deserto!
Lá, não viverás num canteiro.
Não irás ter um jarro de água para te banhar.
Nem vitaminas.
Nem um Tolentino, para te abrigar do vento.
Irás sobreviver no meio dos Camelos.
Ficarás debaixo da areia tempos sem fim!
Já te esqueceste?
Invejoso.
Zabreu:
Eu, não sou sou invejoso.
Só queria ser ramalhudo, como o Tolentino.
Não quero ventania.
Quero Sol.
Calor.
Ser ramalhudo.
E poder gostar do vento polar, perto do mar.
Tolentino:
Não vales mesmo nada Zabreu! ...
Cada um é como é, e deve ser Grato pelo que tem.
Maria Neves
(Contos... )