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18.06.21

Ser e Reconhecer- Memórias de pai


Maria Neves

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Ser e Reconhecer
Erguendo-me da janela da sala,
Via ao fundo do caminho,
Uma curva fechada,
Um moinho submerso pelo tempo,
Uma ponte, e a nova autoestrada.

Ser e reconhecer
Tinha uma viagem  para seguir,
Uma carreira sonhada,
Saberes, para laborar,
E, não tinha porquê me queixar.


Ser e reconhecer
Entre a saudade de partir,
E vontade em chegar, 
Teria uma hora  para dormir,
Antes de ir trabalhar.

Ser e reconhecer
Depois da despedida,  já de saída,
O octagenario de tristeza  visivel no rosto,
Timidamente perguntava.
Então quando é que voltam?


Ser e reconhecer
Eu não sabia responder.
A vida que levava era tão complexa,
Que me limitava a dizer.
Brevemente, vamos ver...!

Ser e reconhecer
Já tenho saudades,  e ainda não fui embora.
E a lágrima do octogenário da face caia.
Como a água, na cascata da ponte,
Sem saber muito bem, para onde ia.

Ser e reconhecer
Contava estórias para pensar,
De inverno, com vento sul, nos serões,
Com um frio gélido na rua,
Em casa o calor da lareira,
Aquecia  os nossos corações.

Ser e reconhecer
Era a sua menina enfermeira, 
Que de orgulho o preenchia,
Fosse de noite ou de dia.
Ela,  que já nem o cansaço sentia,
Olhando um tição que ardia.

Ser e reconhecer
Os anos foram passando,

O seu fim de vida chegou.

Ser e reconhecer
Toda a minha vida mudou.
Não soube lidar com a sua ausência.
Volto  à propriedade raramente.
Só entende,  quem sente,

A quem  a saudade não mente...

De como só um Pai ama verdadadeiramente,
Da alma,  do coração  e da mente.
Ser e reconhecer
Fim


Maria Neves






 

 

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