Como poder ficar indiferente, Mesmo que o cansaço se imponha, Ao por do Sol no poente, Ao mar cálido na tarde risonha. Olho cada pequena onda, Beijar devagarinho o rochedo, Perto de mim faz a sua ronda, Parece que esconde um segredo. Segredos do mar, Segredos dos tempos, Procurando apenas amar, Nem que seja só uns momentos. Porque o sol está quente, Porque a chuva acontece, Porque o Outono desmente, O que se assemelha a uma prece. Maria Neves
Desço a avenida em direção ao rio, Avisto um lindo espelho de água, Um cisne negro arredio, Aqui não há tristeza, nem mágoa. Na tarde quente de Outubro, Uma brisa sopra devagarinho, Folhas doiradas caiem ao rubro, Sabe tão bem sentir este carinho. Junto ao rio, os ruídos da água ecoam, Caindo no seu ritmo semeiam paz, Gritos furtivos dos pássaros entoam, Chamando o mais alto de que são capaz . O Outono no seu mais pleno esplendor, Os sentidos incutem confiança, A (...)
Madrugada vermelha, O canto dos pássaros foi silenciado, O fogo na serra ao inferno se assemelha, Vento que ninguém ousa calar, sopra desvairado. Viajando no tempo, no mês de Agosto, A Cascata verde escoava, O sol quente, e uma brisa no rosto, A água pelo corpo refrescava. Hoje ao meio-dia o calor abafa, A montanha está a ser consumida, A cascata está seca, A Natureza à miséria resumida. O ser humano é culpado, A Natureza cansou, a catástrofes levará, Ele vive no seu mundo (...)
O mar cálido e brilhante, Toca nas rochas silencioso, Não há ondas, não há vento, Tudo aqui é majestoso. Não há névoa no horizonte, Não sinto a falta do vento, Não se anuncia Levante, Sinto-me saindo do tempo. Do outro lado do mar, Do outro lado do Sol, Para além de um simples olhar, Existe um inatingível farol. Maria Neves
Dobramos aos ais, Sob a fúria do vento forte, Nos bosques e pinhais, Chega o braseiro do desnorte. Hoje sou verde e vibrante, Amanhã talvez, um tição na lareira, Enquanto me inclino ao sol da manhã, Nasci raiz, não sou uma guerreira. Vivemos no desassossego, Dia e noite em montes e vales, Sempre envoltas no medo, Do inferno, nas mãos de todos os males. Somos o pulmão da terra, Sem árvores não haverá vida, Enquanto tudo fica cinza e morto, Chora-se a nossa partida. M (...)
Sou verde da cabeça aos pés, Sou reflexo dos pinhais, Vivo na represa, não há marés, A minha casa não tem umbrais. O calor atrapalha os meus planos, Quero apanhar o sol, restaurar a cor, Mas o mesmo espaço com humanos, Vai de mal a pior. Eu não faço mal a ninguém, Será que sou tão feio assim, Aproximei-me com os meus dentes brancos, Chamaram um exército sem fim. Pobre de mim, pensei em me aproximar, Não tinha maldade, só queria lanchar, Agora eu tenho certeza, Que na águ (...)
Quando um dia me retirei, Triste e sem perceber, Porquê deixar o que tanto amei, Em busca da paz para viver. O Sol brilha nas águas do rio, Nunca se fez anunciar, Ele escolhe a hora do dia, Em que volta e decide brilhar. Com o passar do tempo decidi, Colocar tudo no seu lugar, Se há factos que não esqueci, É que nunca me irei acostumar. O tempo mudou o rumo da viagem, Sou parte do lugar onde o Corvo canta, Onde o que passou foi miragem, Onde o que se passará, já não me espanta. Ma (...)
No silêncio da noite, No meio da serra, De asa partida, Não passo da terra. Sou uma coruja, que viaja pelas estrelas Olho o céu estrelado, e vejo a Lua, No meio da noite, solto o meu canto, Viajo no chão, negra e nua, Foi-se a asa e o encanto. Sou uma coruja, que viaja pelas estrelas Na noite escura, vejo um mundo parado, Olho a copa do castanheiro, Não voo, não vou a outro lado, Estou parada no desfiladeiro. Sou uma coruja, que viaja pelas estrelas. Serei dura como uma pedra, (...)
O Alecrim Tolentino e o Cacto Zabreu Zabreu: Boa tarde Tolentino! Tenho novidades fresquinhas. Tolentino: Então Zabreu, conta lá! Zabreu: Então ouvi dizer que vamos mudar de canteiro? Tolentino: Sim, é verdade, a jardineira já me penteou, para ficar mais verde, e com mais flores. Zabreu: Ah, tu sabias, porque não me disseste? Tolentino: Porque não me apeteceu. E também tu, foste limpinho. Para ficares mais vermelho. O Verdinho também vai. Zabreu: Olha, então temos que (...)
Junto ao rio Ao fundo vejo a ponte romana, A copa das árvores reflete no rio, O cheiros que a verdura emana, Chama o pato arredio. O cisne branco em ritmo lento, Sozinho, exibe a sua beleza, No fundo do rio busca alimento, Ali, ele tem toda a sua riqueza. Todo aquele espaço tem magia, Tem Paz, tem Luz, tem arvoredo, Em Maio, o calor do fim do dia, No parque, a natureza tem o seu segredo. Ao seu ritmo a noite vai caindo, As aves do dia, preparam a despedida, Também eles amando (...)