Uma melodia se eleva, Uma nota deixada pelo vento, Subtrai o silêncio da treva, Que arrastou o peso do tempo. Folhas vermelhas cobrem o chão, Os pássaros migram da temporada, Os montes cercam solidão, Que se instalou delicada. Nuvens brancas ao entardecer, O sol brilha, alheio ao temporal, Um dia lindo para reviver, Cantou o pássaro no beiral. Viajando ao anoitecer, Tantos quilómetros de estrada, Tanto ainda, para viver, É tão amável a madrugada. Maria Neves
Caminhei pela noite fria, Por entre os sons do arvoredo, Tive as estrelas como guia, Nunca deixei de seguir o segredo. Nuvens dispersas, o luar, Pelo cantar da coruja me enfeiticei, Travei lutas com as trevas, eu sei, Mas depressa a Luz encontrei. A madrugada vermelha se anunciou, Cansada, no chão me deitei, O Sol de Outono voltou, No perfume da madrugada acordei. Folhas vermelhas dançavam ao vento, Um momento crente e acolhedor, Do orvalho bebi o alento, Que o Universo advertiu (...)
O sol brilhou naquela manhã, A última gota de orvalho secou, Para trás a terra guardiã, Que o crepitar do fogo calou. Viajar para outro lugar, Vencer pela razão, Recusar apenas lutar, Por algo que não é seu chão. Encontrar um bem supremo, Algo difícil de descrever, Viajar em barco sem remo, Onde a vida se faz viver. Caminhar à luz do luar, Ouvir o mar que fica tão perto, Sem motivos para alcançar, Prados verdes no deserto. Maria Neves
A noite de luar acabou, O horizonte vermelho de frente, O tempo, esse mudou, Não posso ficar indiferente. Assemelha -se a um manto, Que desliza para um lado, Não, não há pranto, Apenas alguém abalado. Todos olham a nuvem que passa, Há tempestade no Ser, Nem terra, nem monte afasta, Porque há nuvem, mas não vai chover! Acontece, é um fardo pesado, Não, Ninguém quer ver, Mais fácil viver no passado, Ser obediente, e nada resolver. Vejo o mar que viaja em vai-e-vem, Viajo no (...)
O ruído do vento que sopra da serra, O ranger da porta que se fechou, O grito da esperança que sai da terra, O que o tempo não levou. Sigo na direção dos meus sentidos, Que há muito tempo deixei, Onde sonhos foram vividos, Onde com a coruja, à noite cantei. Sigo por pontes de pau, Debaixo, uma torrente de lama, Mas o caminho não será tão mau, Quando algo muito bom me chama. Não esqueço o Dezembro frio, O calor da lareira, a oração, O autor do livro, o trovão, e o rio, (...)
Como poder ficar indiferente, Mesmo que o cansaço se imponha, Ao por do Sol no poente, Ao mar cálido na tarde risonha. Olho cada pequena onda, Beijar devagarinho o rochedo, Perto de mim faz a sua ronda, Parece que esconde um segredo. Segredos do mar, Segredos dos tempos, Procurando apenas amar, Nem que seja só uns momentos. Porque o sol está quente, Porque a chuva acontece, Porque o Outono desmente, O que se assemelha a uma prece. Maria Neves
Desço a avenida em direção ao rio, Avisto um lindo espelho de água, Um cisne negro arredio, Aqui não há tristeza, nem mágoa. Na tarde quente de Outubro, Uma brisa sopra devagarinho, Folhas doiradas caiem ao rubro, Sabe tão bem sentir este carinho. Junto ao rio, os ruídos da água ecoam, Caindo no seu ritmo semeiam paz, Gritos furtivos dos pássaros entoam, Chamando o mais alto de que são capaz . O Outono no seu mais pleno esplendor, Os sentidos incutem confiança, A (...)
Numa noite de temporal, Ouvindo o rugir do vento, A chuva caía em bátegas cor de prata sobre a janela, O bater das ondas na muralha estimulava os sentidos. E eu, olhando, sentindo e pensando. Tão real! A noite de Outono perfeita. Sabia tão bem um doce para sobremesa. Um doce, Eu...! Pois, simples e muito bom. Servido envolvido com laços de ternura e muito amor. Receita: 1 cacho de uvas roxas sem grainhas, 4 bolachas recheadas de chocolate negro, 1 iogurte de copo de (...)
Era uma manhã de Novembro, As primeiras chuvas caíam, Logo ao amanhecer eu me lembro, As galinhas do rio apareciam. Era lindas e desejadas, Raramente se viam, Usavam camuflado na plumagem, Assim, não as reconheciam. A chuva caía intensamente, Na janela do salão eu observava, De onde viria aquele "pato" diferente? Não era pato, era uma galinha que nadava. Era uma linda galinha da água... Maria Neves